terça-feira, 31 de março de 2009

Mundo podre

Esta é a última chance que me dou de escrever alguma coisa hoje. Antes deste texto, já havia tentado outros três. É a minha falta de inspiração que está se tornando crônica. Nos dois sentidos.

Enfim, hoje quero fazer um protesto. Um protesto sério, de uma coisa, no mínimo, desonesta que pode estar acontecendo no meu trabalho. Como, por enquanto as notícias que eu tive estão muito superficiais, vou tomar cuidado com o que digo, evitando condenações precipitadas, para não cometer injustiças.

Pois bem. Sou funcionário público no estado de Minas Gerais, governado por um cidadão chamado Aécio Neves. E a sua gestão também vem sendo aprovada, por sinal. As possíveis "desonestidades" de que tomei conhecimento não têm relação direta com o caráter desse governador, mas seus atos bem que facilitaram o acontecido.

Por ora, vou tratar isso como um boato (embora eu confie plenamente na minha fonte). Vamos a ele.

Tive conhecimento de uma lista de 38 nomes de pessoas que, no dia 11 de março, tiveram direito a receber a chamada "gratificação estratégica". Essa gratificação teria sido um reconhecimento por "relevantes serviços prestados". Eu ainda não soube todos os nomes, tampouco conheço todos dos que tomei conhecimento.

Já quando fui informado, todos os 38 nomes foram relacionados a pessoas que trabalham na área-meio e prestam serviço em uma mesma subdivisão do sistema onde eu sou empregado, e diferente da minha. Ou seja, embora eu reconheça como um trabalho indispensável a qualquer missão que uma instituição pode se auto-atribuir, não é uma atividade que gere resultados concretos ou que projete o nome e as realizações. Além disso, o recurso de onde saiu a verba para esse pagamento, quase indubitavelmente é o mesmo de todas as quatro subdivisões que compõem o sistema.

Na minha subdivisão, eu sei que, com poucas exceções, todos se mostram muito interessados em realizar tudo na mais lúcida lisura e em melhorar a qualidade do serviço prestado. Apesar da desmotivante remuneração. E não temos recebido um reconhecimento suficiente por isso.

Portanto, caracteriza-se a parcialidade desse pagamento, a falta de isonomia. Pagaram-se apenas determinados funcionários, de determinada subdivisão que prestam determinados serviços, que em nada são melhores que os outros. Ao contrário da justificativa que chegou a mim: "relevantes serviços prestados".

Se eu quiser ser ainda mais crítico, posso observar que, literalmente, não se fala em qualidade do serviço. Mas em "relevância" do serviço. Poder-se-ia dizer, então, que aquele serviço é relevante e os outros não? Ou que aquele serviço é mais relevante que os demais? Ou será que cabe outra interpretação, menos maldosa? Para quê, então, existem as outras divisões? Tenho que observar que essa subdivisão privilegiada está, digamos, mais próxima do poder. Mas isso está muito longe de fazê-la mais importante. E isso torna essa distribuição de recursos bastante suspeita.

Deve ainda ser falado que todas as gratificações de que tive notícia até agora primavam pela transparência: eram conhecidas de todos e foram concedidas mediante o atingimento de resultados previamente combinados. De repente, surge uma gratificação que até então, eu desconhecia, dada a um seleto grupo de pessoas que eu nem sei se chegaram a combinar um prestação de "serviço relevante". O que me soa uma gratificação burra, já que, se existe aquele cargo, presume-se que sua existência já tenha, antes mesmo de sua ocupação, um objetivo relevante.

Outra espantosa incoerência: desde há uns seis meses, aproximadamente, os dirigentes têm sistematicamente cortado benefícios dos funcionários, com a justificativa de se combater a crise. O dirigente máximo chegou a escrever uma carta muito bonita aos funcionários, afirmando entender a situação desagradável, e convocando para que todos compreendessem que o momento era de união e que todos deviam fazer sacrifícios em nome de objetivos comuns. Foi tão convincente, que minha vontade era de oferecer uma parte do meu salário para ajudar. O que está parecendo, no entanto, é uma puta falta de vergonha na cara. Só no meu caso, foi-me subtraído, sem que eu fosse devidamente convidado a negociação ou prestação de esclarecimento, o equivalente a 9,6% (numa conta rápida) de benefícios que eu dispunha. E, de quebra, deram um jeito sorrateiro e aparentemente justo de aumentar minha carga mensal de trabalho em mais de 3horas (contadas no excel).

Um desses 38 nomes, para completar, me chamou a atenção. Renata, conhecida minha. Meio fluminense, meio mineira. Uma mulher de uns 27 anos, bonita sem ser linda. Chama muito mais a atenção, pelo seu corpo escultural. Trabalhou por pouco tempo em um setor de onde seus colegas várias vezes confidenciavam-me uma insatisfação quanto ao seu rendimento e boa-vontade. Um dia, há menos de um ano, ela foi mudou de situação e foi convidada a trabalhar como "assessora" (nome sofisticado para "secretária") de um alto-escalão. Eis que em 12 meses ou menos, sua "assessoria" rendeu tanto e com tanta boa vontade que, mesmo sendo ela novata, fez um "serviço" tão relevante, que lhe valeu uma "gratificação estratégica".

E merece ser dito que se trata de recurso público. O uso desse recurso para pagar gratificações me parece legal e moral. Só é questionável a distribuição desse recurso para umas poucas pessoas descriteriosamente, em vez de realmente promover uma motivação para que o trabalho esteja cada vez melhor.

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