domingo, 1 de novembro de 2009

Mais uma vez, reforma ortográfica pra quê?

É de conhecimento público que, após um ano, os meios de comunicação e livros brasileiros já estão adequados aos novos padrões ortográficos. Como já cansei de dizer pacificamente aqui, nunca engoli essa nova regra. Minha idéia é, em vez de um acordo que imponha ao povo uma ortografia diferente, faça-se apenas a proposta de escrever de maneira compreensível ao outro povo, se o autor assim julgar conveniente. Não se considerariam erro as diferentes formas de escrever. Algo que valorize a escolha e não despreze os regionalismos de cada um. Seria mais simpático pra todos os lados.

Porém, recentemente, andei olhando uns portais de notícia portugueses e me deparei com vários "novos arcadismos". Cismado com essa má-vontade portuguesa, pesquisei em portais brasileiros e portugueses a adesão desse acordo. Encontrei praticamente todos os textos brasileiros redigidos sob a "nova norma" e absolutamente todos os textos lusitanos escritos como eles já escreviam.

Para ilustrar, em portais brasileiros encontrei, ao acaso, as seguintes referências nos maiores sites:
portal iG (12 de outubro de 2009): "Se desejar, recheie os brioches com geleia. Embale-os em filme plástico e depois em guardanapos coloridos..."
UOL(13 de outubro): Arábia Saudita apoia candidatura de Ari Vatanen
G1 (13 de outubro): Rodovias de São Paulo têm trânsito tranquilo

Já nos portais lusitanos, encontrei, também ao acaso, vários exemplos, todos datados de 13 de outubro de 2009:
No Destak.pt: Tannick fractura perónio e fica de fora seis semanas
No Sapo.pt: O seleccionador nacional garantiu na antevisão do Portugal-Malta de amanhã que não existe ansiedade na equipa.
IOL Diário: Discurso Directo»: Prevenção Rodoviária

Encontrei outros, mas achei melhor publicar só os principais sites.

Como se sabe, na "nova regra", dentre outras coisas, os brasileiros têm que escrever geléia e apóia sem acento, e tranqüilo sem trema, o que foi rigorosamente atendido pelos redatores daqui.

Já os portugueses ficariam obrigados a cortar aquele C e P mudos, o que efetivamente não ocorreu em nenhuma página pesquisada, sendo até muito comum a presença dessa ortografia nos sites daquele país.

Diante desses exemplos, posso afirmar com toda convicção (ou seria convição?) que praticamente todo o Brasil já aderiu a essa reforma, com poucas exceções, das quais eu me orgulho de fazer parte. E o povo de Portugal simplesmente cagou e andou pra nós.

Dito isso, pergunto eu: essa reforma está unificando quem ou o quê? Se a proposta era unificar a ortografia de todo mundo, estou vendo que, entre Brasil e Portugal (não conferi os demais países), só os brasileiros estão fazendo a sua parte.

O que vejo é um país que tem mais com que se preocupar aceitando de bom grado mudanças que facilitem a leitura de um outro povo que não está dando a mínima pra esse esforço.

Se antes eu rejeitei com discrição esse acordo, agora faço abertamente campanha contra. Questão de reciprocidade.

Voltem com as nossas geléias e tranqüilas! Apóiam?

Um comentário:

Voz do Seven disse...

Não sei se por sermos mais burros necessitamos de mais tempo de preparação [ler]. No entanto, pior que burro é aquele que não quer procurar saber correctamente para evitar juízos pré-concebidos ou então é mal intencionado preferindo espalhar a desordem, o mal estar entre povos.
Sobre madame Proença Gallo (gosto de focar esta origem e nem tanto pelo azeite) não me pronuncio, mas, apesar de eu nada ter que dizer (só vim há 7 anos) conheço muitos, mas mesmo muitos portugueses que de jeito nenhum concordam consigo quando diz:"Todos os estrangeiros, especialmente os portugueses, que conheço são tratados com a maior cortesia e reverência no Brasil"! Meu sogro por exemplo, que viveu 80 anos por cá e por cá ficou enterrado já que Portugal era uma ténue nuvem na sua mente de 5 anos de idade manifestava muitos traumas adquiridos ao longo de uma vida de trabalho desde a escola, só pela sua condição de ter sido parido em terras lusitanas, Que que eu saiba nunca se agiu assim com Carmen Miranda, tão burra como os demais, ou até presentemente com o Ministro Tmporão, afinal tão burro como eu já que nasceu em Monção.
Um último aspecto de que o caro senhor deveria pesquisar é que o Brasil não perdeu com o acordo: basta ver que os dicionários (brasileiros)já estavam no prelo ou seja as editoras brasileiras já estão a facturar e a invadir o mercado africano, por exemplo. Por outras palavras para a eventualidade de não me ter feito entender: o Brasil (leia-se editoras, nada com o país e muito menos com o Povão com quem me misturo) TINHAM PRESSA... DEMASIADA PRESSA!

Neves, AJ
(um luso in São Paulo)