quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Metáfora mais fácil da minha vida

Acabei de assistir à reportagem do Jornal da Globo, hoje, 18 de julho, à meia-noite e quinze, mais ou menos, sobre o fim da exigência do diploma para jornalistas. Bom para este espaço, que às vezes se atreve a publicar coisas meio jornalísticas, mesmo eu não tendo diploma de nada na área de comunicação, embora isso já tenha sido um sonho.

Bom, o que me chamou atenção não foi a qualidade da matéria, nem a polêmica do assunto. Nem vou entrar no mérito dessa questão, aliás.

Fiquei impressionado com o desempenho do jornalista.

Eles exibiram um resumo do julgamento e os âncoras chamaram um de seus repórteres para comentar o assunto.

O repórter em questão (não vou dizer o nome, só por segurança) é um que às vezes apresenta o Jornal Nacional quando o casal Bonner está de folga. Mas ele é mais conhecido por ser empregado em uma certa escola de direito de propriedade de um certo presidente de um certo Supremo Tribunal Federal, segundo o Cloaca News (que é o único certo de verdade nesta frase).

Ele comentou, concordando com a decisão, de cujo julgamento o relator foi o seu chefe-Ministro. Até aí, normal. Depois, foi exibida uma entrevista que deu pena, de tão mal-ensaiada.

Foi assim:

- Play
- Gilmar esperando, parado, com cara de paisagem;
- Gilmar andando com cara de paisagem;
- repórter começa a falar qualquer besteira para introduzir o assunto;
- enquanto isso, nota-se um corredor abarrotado... de ar! Vazio de gente;
- o câmera se mexe freneticamente (pra dar um ar de confusão, de espontaneidade, suspeito eu)
- o repórter levanta a bola com uma pergunta sob encomenda, facinha;
- Gilmar responde de bate-pronto, na maior eloqüência;
- pára de andar (talvez para pensar as palavras mais imponentes, já que o teor da pergunta não lhe causaria vacilação);
- o repórter emenda uma outra pergunta;
- Gilmar responde e, ops!
- corte, entrevista editada (tudo bem, acontece);
- termina de responder;
- nova pergunta;
- mais um corte;
- microfone;
- Gilmar novamente parado com cara de paisagem;
- franze a testa, entorta a boca, olha pra cima, simulando mal um esforço para fechar sinapses, como se já não soubesse previamente a pergunta (e a resposta);
- novamente responde à pergunta, agora andando (a partir daqui, já não me lembro mais se eles estavam andando ou parados);
- percebe-se agora, à esquerda do foco, uma única porta aberta, com alguém meio que escondendo metade do corpo e o rosto da câmera;
- percebe-se também apagadas boa parte das lâmpadas do corredor (ou seja, a entrevista foi feita tarde da noite, provavelmente muito após o expediente dos demais Ministros) - a iluminação é quase toda de responsabilidade dos holofotes da Globo;
- continua rolando a entrevista;
- olha pra cima;
- a essa altura eu nem prestava mais atenção no assunto
- a encenação me provocava gargalhadas que só o Tiririca me proporciona atualmente;
- depois foi só repetição:
- pergunta;
- franze a testa;
- resposta;
- ops, corte de novo;
- outro corte na mesma resposta;
- entorta a boca;
- câmera em movimentos frenéticos;
- Gilmar com cara de paisagem;
- anda;
- pára;
- franze a testa, entorta a boca e olha pra cima, como quem pensa, com escárnio: "Preparai-vos, Deus, que eu tomo vosso lugar!";
- está iluminado;
- holofotes da Globo.

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