segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ciência para o indetectável

Não sou religioso. Aliás, sou agnóstico. Quem me conheceu na adolescência ficaria horrorizado com essa afirmação vinda de mim. Por iniciativa própria (ou seja, sem pressão de família), eu freqüentava missa regularmente, queria participar de todos os eventos da igreja, rezava antes de dormir e tudo que tem direito. Porém, como disse, hoje eu sou agnóstico. Agnóstico é diferente de ateu. Ateu é aquele ser contrário a qualquer forma de crença religiosa. Como não sou contra religião nenhuma, não me considero ateu. Inclusive acho religião importante para a comunidade e para a individualidade, apesar de eu ter minhas críticas de como essa fé é aproveitada por alguns.

No momento, eu sou tiguinelista, o que pretendo explicar num momento de mais descontração - que não é o caso hoje. Falando seriamente, se eu fosse religioso, eu voltaria a ser alguma coisa próxima de católico, provavelmente não-praticante.

Nos últimos dias, no entanto, venho tendo sim, uma recaída, dadas as circunstâncias. Meu agnosticismo está provisoriamente suspenso, esperando um milagre, para voltar a ser uma Fé com "F" maiúsculo.

Se eu fosse ateu, eu diria que, de todas as religiões, a que mais me incomoda é o Kardecismo. Mas eu o disse, mesmo não me considerando ateu. Dizem que o Kardecismo é doutrina, e não religião. Definições à parte, não vejo mal nenhum em se crer que o espírito sobrevive à morte do corpo e que esse mesmo espírito pode encontrar morada a partir do nascimento de outro corpo - ou coisa parecida. Pra mim, essa não é a questão. Até gostaria de acreditar nisso. O mal dos espiritismos é o esforço de seus seguidores em "demonstrar" a validade de seus preceitos, com "provas" pseudocientíficas. Passando por "psico"-grafias, "fios de prata" na chamada glândula pituitária, regressões e qualquer coisa que tenha validade na crença, o kardecismo não se constrange em escolher interpretações de fatos selecionados criteriosamente para respaldar as suas "teorias". Misturando-se isso a algumas terminologias do meio científico (principalmente da astronomia e biologia) e adicionando muitos detalhes, inclusive numéricos, está pronta uma eficiente fórmula de convencimento até das mentes que se consideram mais céticas.

A despeito disso, os espiritismos não fogem à regra das demais crenças: dão apenas respostas vagas, que são interpretadas pelas pessoas da forma mais conveniente a elas. E, na verdade, para mim, essa é uma das vantagens das religiões. É a possibilidade de se escolher a própria verdade, as respostas que mais se adequam à sua realidade. Porque a função das religiões, ao meu ver, é esta. Dar conforto, esperança, unir as pessoas (daí o tal religare= re-ligar, de que tanto os religiosos gostam), a partir da constante conclusão de que só haverá paz quando também houver tolerância e compreensão, independente das diferenças. Muito embora parte das piores atrocidades de que tive notícia tenham sido causadas por diferenças religiosas. Contraditório...

Bom, retomando o raciocínio, em resumo: o que não gosto é que manipulem informações para corroborar uma conclusão existente antes da obtenção dos dados. E ainda se passarem por científicos. Existe até uma universidade espírita, que eu vi não sei onde.

Desse defeito que eu tirei, posso ver também um mérito.

As comunidades científicas têm uma grande, enorme incorruptível resistência, ou seria melhor dizer, recusa, em entender a questão "inintendível" da vida. Não no sentido estritamente biológico, na escala biomoelcular; nem na escala neurológica. A vida, esse trem que controla minha e a sua mente. Essa coisa difícil de definir e que pretendo não chamar de alma ou espírito.

As comunidades "científicas"-espíritas (hoje estou cheio de áspas) têm o mérito de tentar entender o momento pós-morte. Tem até disciplina para isso: tanatologia. Que é diferente da patologia, por exemplo, e muito mais reflexiva do que científica. Apesar de as metodologias e as conclusões serem duvidosas, pelo menos eles se prestam a fazer um estudo aprofundado. E isso, nenhum bom acadêmico de qualquer das ciências se atreve a fazer.

Concordo que há dificuldades, como: qual seria o equipamento para "detectar" a presença de uma consciência, mesmo na ausência do corpo? Como confirmar que essa detecção se trata mesmo de uma forma de vida? Já sabemos que, pelo menos em Ciência, testemunho não é prova de nada, a não ser em raras exceções. Se fosse detectável, qual seria o "fluido" (não encontrei palavra menos ruim) em que essa vida se manifesta? Eletromagnetismo? Energia cinética? Luz? Sinapses (por que não?)? Raios gama? Entalpia? Alguma coisa ainda não conhecida? Supercordas?

O problema de vários cientistas ateus é justamente a maior crítica deles. Eles têm fé em algo (finitude absoluta das vidas) mesmo sem provas (falta de conhecimento se a vida se esvai ou se muda de espaço físico/dimensão ou outra coisa mais complexa de se explicar). E como se sabe bem em lógica dedutiva: ausência de provas não é prova de negação. E refutação de prova, também não, diga-se. E raciocínio indutivo sozinho não presta pra nada em metodologia cientifica.

A comunidade científica pretende apenas negar, sem tentar constatar. Do outro lado, os "teóricos" espíritas, querem afirmar, antes de constatar. Desse jeito, não vamos chegar a lugar nenhum.

Estou reticente se publico este comentário. Às vezes me vem à cabeça que a fé não precisa de provas para se justificar. Porém, a questão não é de fé. É de se confirmar uma idéia antiga e estranhamente comum a todas as culturas do mundo, inclusive as passadas.

E a questão é só de confirmação mesmo. Porque, se não for nada disso, acho difícil que algum dia sejam colhidas informações suficientes para refutar essa hipótese.

E a fé continuará sendo fé mesmo. Com "F" maiúsculo ou minúsculo.

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