sábado, 23 de outubro de 2010

13+1 considerações sobre a bolinha de papel

Quero só dar meu palpite.

Dia 20, começou mais uma polêmica eleitoral que, em termos de esclarecimentos, não produz nada. Só confunde. Então, vamos elucidar algumas coisas.

O José Serra pode sim ter levado uma pancada forte na cabeça. O fato de não haver uma imagem crível dessa pancada, simplesmente mostra que ela ainda não veio a público. Assim, a possibilidade não fica totalmente excluída. Isso tem que ficar claro.

Além disso, também havemos de convir que, mesmo com uma simples bolinha de papel, de alguma maneira, pode-se falar em acuamento moral. Não estou tirando o direito dos mata-mosquitos se revoltarem. Mas o argumento da intimidação, até certo ponto, é válido. Assim, como são válidas as razões dos mata-mosquitos para se revoltarem com a pessoa do candidato.

Mas outras coisas são importantes nessa discussão:

1- Como tudo hoje, qualquer grande evento é registrado de inúmeros ângulos, pelos celulares e máquinas digitais. Posso considerar que a grande maioria dessas lentes estavam voltadas para o Serra. Muitas dessas pessoas registrando a passeata aparecem nas reportagens do dia 20. Entretanto, até agora apareceu apenas um vídeo que mal dá pra enxergar o suposto segundo objeto, além da bolinha de papel. Nenhum outro. Supondo-se que todos os celulares e máquinas digitais focados no Serra eram de seus eleitores, era de se esperar uma enxurrada de vídeos na internet, mostrando o objeto pesado e a seqüência de eventos. O que aconteceu, já passada quase uma semana útil, foi que nenhum de seus eleitores presentes se habilitou a provar o tal "objeto pesado".

2- Em contraste com a absoluta falta de evidências do "objeto pesado", a mesma discreta bolinha de papel foi capturada por pelo menos três ângulos diferentes. O objeto pesado - que obviamente deveria chamar a atenção -, não foi registrado por ninguém.

3- Mais do que isso, uma ou mais câmeras da própria campanha do José Serra estavam lá, registrando cada passo dele. E nem assim seu comitê conseguiu apresentar imagens do tal objeto que machucou o Serra. É uma contradição o fato de um mesmo instante sem muita importância ter sido registrado por diversas câmeras (inclusive a do Serra), e um instante de mais relevância ter sido supostamente capturado por apenas uma (que não é a do Serra).

4- Mesmo assim, esse registro é um indício duvidoso, já que não capturou a trajetória do projétil, nem antes, nem depois do suposto impacto. Esse segundo projétil poderia ter vindo, por exemplo, de trás, de cima ou de um dos lados. Ficaria impossível dizer se ele foi arremessado pelos mata-mosquitos ou acidentalmente por um morador do prédio acima ou por alguma armação de sua própria campanha. Isso se é que é possível esse objeto ter caído sem aparecer sua trajetória.

5- Além disso, o tal "projétil" do celular também já foi questionado, podendo se tratar de um "Óvni", ou seja, um efeito de luz e ângulo fez parecer, apenas naquele quadro (ou frame, se preferirem), que havia um objeto sobre a cabeça do Serra. Esse é um fenômeno extremamente comum. Onde alguns vêem fita adesivas, outros poderiam ter visto um espírito.

6- O vídeo com o "Óvni" foi editado, logo após o suposto impacto. Isso possivelmente gerou mais uma interpretação equivocada do vídeo.

7- Mas deu tempo de perceber que o Serra novamente não esboça reação, com o suposto segundo objeto. Essas quatro últimas constatações convergem para a conclusão de que esse celular também não registrou mais nada caindo no Serra.

8- Mesmo assim, se ficar comprovado que esse "Óvni" é, de fato, um rolo adesivo ou outro objeto, isso continua não justificando o sensacionalismo. Terão que dizer que foi ainda um terceiro objeto que atingiu o Serra.

9- Além disso, não apareceu, nem ouvi falar de "chuva" de pedrinhas, adesivos, bolinhas de papel, nada disso. Para que conseguissem acertar somente o José Serra duas ou três vezes, sem arremessar muitos objetos para cima, ou a pessoa teria que estar muito perto (teria que ser alguém do próprio partido) ou o mata-mosquito precisaria ter uma mira e uma concentração digna de Olimpíadas. É muito pequena a probabilidade de arremessarem dois ou três objetos e apenas uma pessoa ser acertada em todas as vezes no meio da multidão. Se essa pessoa for uma específica, essa probabilidade diminui para a quase nulidade. Teria sido maior a chance de apostar na Mega-Sena.

10- o perito da Globo comete equívocos gritantes em pelo menos duas conclusões: nos três ângulos disponíveis (SBT, Record e PSDB), a bolinha de papel nitidamente bate do lado direito da cabeça. Porém, para apontar onde a bolinha teria atingido, o perito coloca a bola quase no forâme-magno (ou seja, na base da nuca). Além das imagens, na posição em que estavam os petistas, era impossível alguém atingi-lo onde ele indicou. Mais uma vez, teria que ser alguém do próprio partido. Nesse ponto, o perito errou e errou por muito.

O crânio humano

11- Quando se refere à suposta fita adesiva, ele mostra o osso frontal direito, próximo do osso parietal (isto é, da testa para cima, ou, nas palavras dele, "frontal-superior"). Todavia, o único quadro em que aparece um indício de objeto, é bem no osso parietal direito, a meia distância do osso frontal (ou seja, no côco, um pouco de lado).

12- Talvez ele tenha feito isso para aproximar sua perícia do depoimento do médico, concordando com o lado de impacto. Mas o fez de forma completamente enganada (ou enganosa). Segundo o médico, a região de impacto é a occipito-parietal (de lado, um pouco atrás), ao contrário do perito, que determinou a região fronto-parietal (de lado, um pouco à frente). Esses dois erros grosseiros e favoráveis a um segundo impacto podem indicar que as duas "perícias" (a do médico e a do perito) tenham sido altamente tendenciosas.

13- Se um objeto realmente atingiu a cabeça do candidato, ou ele ou o médico se equivocou na localização do trauma. Em todos os registros, a mão do Serra indica que a dor ocorreu na região no osso parietal esquerdo, próximo do meio da sutura sagital (isto é, bem no côco). Ao contrário disso, o médico indica, com a mão, o lado direito e afirma que "o ferimento" ocorreu "na região occipto-parietal" (isto é, um pouco atrás na cabeça, de ladinho). Pode até ter sido um momento de distração, mas acho extremamente improvável algum médico, mesmo os recém-formados, cometerem esse equívoco, principalmente num momento de projeção nacional. Pior ainda um médico da experiência dele.

13+1- Diante desses fatos, o diagnóstico do médico concordou com o local da queda da bolinha de papel mostrada nos vídeos, mas contradiz o vídeo do Uol e a perícia da Globo, em relação à suposta "fita adesiva".

13+2- Ainda que um objeto mais pesado tenha atingido, o fato de o projétil não ter produzido nenhum resquício de lesão, nem mesmo rubor (isto é, "vermelhidão") indica que, se houve agressão, ela foi moral, não física. Contudo, a atitude do Serra faz parecer que houve uma agressão, além de moral, física.

Conclusão:

Como eu disse, eu não descartaria terminantemente a hipótese de agressão física, neste momento. Porém, reconhecer a existência dessa possibilidade não é a mesma coisa de dizer que ela é mais provável do que uma "armação" dos tucanos. Todas as evidências, inclusive o as do médico e a do perito da Globo, concordam que não houve qualquer tipo de agressão física.

Ao lado disso, já dá pra afirmar categoricamente que houve valorização excessiva do ocorrido, com a ajuda do Jornal Nacional, o que já configura uma interpretação desonesta dos fatos.

Se houve agressão física, uma imagem menos duvidosa do "atentado" aparecerá. Isso é certeza, não uma possibilidade. Enquanto essa imagem não aparecer, a tese mais concreta é a da armação.

E mais, se nenhuma imagem aceitável aparecer até as eleições, podemos ter a segurança de concluir, sem margem de dúvida, que o ocorrido foi uma armação tucana, pura e simples.

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