domingo, 23 de agosto de 2009

Tropa de Choque de Gestão

Corre forte um boato underground, de que o governo Aécio recebe um tratamento de pai pra filho da imprensa mineira. Super-proteção mesmo. No entanto, a maioria esmagadora é cética sobre essa possível "teoria da conspiração", vide pesquisas de aprovação. Quanto a isso, enquanto toda imprensa alardeia qualquer manifestação de 40 pessoas, como, por exemplo, as contra o Sarney, veja o que aconteceu de ontem para hoje :

Ontem, dia 20/8, quinta-feira, houve uma manifestação pacífica relativamente grande, na Praça Afonso Arinos. Os servidores estaduais da saúde, segurança, educação e meio ambiente questionavam os baixos salários, além do desproporcional recurso de terceirização, de cargos comissionados, outras incoerências e reivindicações específicas, principalmente em contraste à enxurrada de dinheiro despejada nas obras do futuro Centro Administrativo de Minas Gerais. Daí, correu uma passeata desse local até a Praça da Liberdade, que se juntou a mais uma boa quantidade de pessoas, o que deve ter chegado muito próximo de mil pessoas, se não tiver ultrapassado esse número.

Diante disso, veja o que o portal UAI, vinculado ao jornal de maior circulação em Minas Gerais publicou.

Essa notícia não está na página inicial do portal UAI. Tive que pesquisar no Google Notícias para encontrar.

Note que a chamada não é sobre as reivindicações em si, mas os "reflexos no trânsito". Observação: a manifestação foi na área sem trânsito das praças. Pela distância, a passeata, que foi foi sim no trânsito da rua da Bahia, não deve ter durado mais que 20 minutos. Além disso, os jornalistas noticiaram a ocorrência na Praça Sete (?!), onde não houve manifestação, embora esta seja sim reconhecido por ter o trânsito comprometido quando usada para protestos.

Ainda, os jornalistas demonstraram claramente um menosprezo pela manifestação ao subestimarem absurdamente a contagem de manifestantes, noticiando ridículos 100. Se esses jornalistas, em vez de irem à Praça Sete, tivessem ido apenas à Praça Afonso Arinos, saberiam que havia, por baixo, umas quatro vezes mais. Se tivessem ido ao local mais importante, a Praça da Liberdade, teriam vergonha de publicar aquele número.

Sem contar os fatos relevantes omitidos. Por exemplo, foi relatado que os servidores tiveram uma recepção intimidadora, com tropa de choque no Palácio da Liberdade.

E isso não é requinte desse portal/jornal. Na minha pesquisa ao Google Notícias, apenas o Globo.com se deu ao trabalho de dizer alguma coisa e, mesmo assim, aparentando certa preguiça com o assunto. Nenhum outro portal de notícias mostrava qualquer referência a esse fato hoje pela manhã.

Extrapolando um pouco o assunto desse protesto, vale um comentário sobre o Centro Administrativo, que citei ali no começo desta postagem: esse projeto, conhecido entre os servidores como "Aeciolândia", é uma mini-Brasília, assinada por Oscar Niemeyer, que conta com consórcios de grandes empreiteiras, algumas de reputação duvidosa, como a Odebrecht (referência à hidrelétrica no Equador). Em números: o governo alega, como principal justificativa, que serão economizados R$ 30milhões por ano em aluguéis de imóveis. Porém, os gastos iniciais diretos foram calculados em R$ 900milhões, o que por si só já levaria 30 anos para ser pago. Piorando a situação, sabe-se que os gastos foram aumentados a R$ 1,2 bilhão, certamente para acelerar o fim das obras. Especulo eu que isso aconteceu para o produto ser entregue em tempo de o Aécio sair na foto histórica como governador inaugurante e ainda renunciar depois, para concorrer à Presidência da República. Isso tudo a custas de defasagem salarial desses servidores, auto-apelidados como "vítimas do 'choque de gestão'".

Agora pesquise um pouco sobre as maravilhas que toda a imprensa mineira tem dito sobre essa obra faraônica.

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