terça-feira, 25 de novembro de 2008

Conscientização x Mobilização

Acabei de ler, na capa de uma nova revista, sobre uma adolescente infectada pelo HIV, dizendo que ela era esclarecida sobre a SIDA antes da contaminação.

Esse caso retrata uma condição que eu vejo e parece que ninguém sacou. Autoridades e moralistas em geral utilizam o termo "conscientização" com o sentido de educação. O que eu acho é que a maioria esmagadora das pessoas que, de algum modo, cometem o que a sociedade considera imprudente, ilegal, vandalismos ou politicamente incorreto, elas o fazem com um mínimo de esclarecimento sobre as conseqüências de seus atos (ou sobre o que pensará a sociedade). A sociedade subestima a capacidade dessas pessoas em entender e compreender o que envolve seus atos.

Por exemplo, essa menina acima: posso apostar que, das pessoas que compreendem o que são doenças sexualmente transmissíveis e sabem como previni-las, muito mais da metade age sem se importar com os riscos. Elas julgam improvável uma contaminação mais séria. E a prevenção, quando há, deve-se muito mais ao risco de gravidez.

Outro caso: esses dias ouvi no rádio sobre a ação da polícia para apreender produtos piratas em shoppings populares. Na própria matéria, os policiais e jornalistas concordavam que os compradores sabiam da origem ilícita dos produtos; que essa atividade gerava "prejuízos" ao governo e que isso refletia no comprometimento da eficiência do serviço público. Os compradores também sabem da violação dos direitos autorais e que os autores não estariam sendo recompensados por suas obras. Essa mesma matéria explicava que, para esses compradores, a compra de produtos pirateados é mais justa porque ajuda na renda dos vendedores, promovendo uma "redistribuição de renda". Ou seja, para esses compradores, as indústrias, os diretores, os artistas e os programadores já têm muito dinheiro e não precisam da receita gerada por essas vendas; então esse lucro é repassado para o vendedor, que é mais pobre e vai fazer um proveito menos fútil daquele dinheiro (ou vai gastar menos dinheiro com futilidades). E o dinheiro dos impostos, em vez de dar a "político corrupto" ou a programas sociais eventualmente ineficientes, são usados direto na finalidade que o comprador escolheu - a tal "redistribuição de renda". (Um comentário: não me oponho a essa lógica. É politicamente incorreta, mas faz todo o sentido.) E a conclusão da matéria foi: "as pessoas não têm consciência dos prejuízos que a pirataria traz."

No caso de motoristas bêbados, todos que tiveram competência para passar na prova de legislação de trânsito têm que saber das alterações fisiológicas provocadas pelo álcool e a conseqüente perda de inibição, atenção e relfexos. E provavelmente já se cansaram de ter notícia de acidentes trágicos por causa de bebida. Mas a auto-confiança sempre fala mais alto e até os passageiros não costumam se importar com a alteração do motorista. A pouca mudança de comportamento sobre isso só aconteceu com essa Lei Seca. E eu nem precisava ir tão longe no caso de motoristas. Eu posso apostar, de novo, que você, leitor, dirigiu falando ao celular pelo menos uma vez nas últimas dez vezes que pegou o carro.

Poderia dar vários outros exemplos: drogas, pixação, lixo, consumo de recursos naturais, consumismo, geladeira aberta, peido, sedentarismo...

O fato é que, em muitos casos, mesmo após compreender o contexto de seu comportamento, as pessoas não correspondem às orientações de uma atitude adequada. Elas não têm motivação para seguir aquela orientação ou, ainda, sentem-se motivadas a não cumpri-la. Os analistas, as autoridades e os moralistas em geral precisam parar de acusar seus alvos de "inconscientes", como se fossem ignorantes, e passar a chamá-los de desmobilizados para aquele assunto. Porque o que eu vejo é que, consciência, a pessoa tem. Ela pode se sentir motivada por aquela causa ou não. Infelizmente (ou felizmente, em alguns casos), só depende dela.

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