sábado, 3 de abril de 2010

Manifestação teria sido aliciada por dirigentes

Jornal Estado de Minas, edição do dia 1º de abril de 2010, Caderno Gerais, página 24.

Tema: "Aliciamento" (de aliciar, ou seja, "1. atrair a si; granjear, angariar. 2. Seduzir; subornar.", segundo Celso Pedro Luft
Chamada: "CUT pagou manifestantes"
Sub-título: "Presidente da associação que contratou ativista para protestar contra o governo estadual (gerido pelo príncipe Aécio) confirma que dinheiro foi repassado pela Central Única dos Trabalhadores"

Também encontrada no portal Uai.

Quando li isso, minha primeira reação foi de condenar a CUT e desmerecer completamente o protesto. Pensei: "desta vez, realmente não tem desculpa. Terceirizaram a manifestação para fazer mais volume."

Abaixo, uma foto estampada, sobre a legenda: "Welton Luiz, o Pelé, diz que a 'ajuda de custo' dada aos participantes do protesto veio de um rapaz da CUT".

As áspas em "ajuda de custo" apenas reforçam a idéia a que a chamada me levou.

Mas deixei a preguiça de lado e fui à leitura da matéria. Começa assim:

"Ativistas que fazem panfletagem para a Associação dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário Aposentados e Pensionistas de Belo Horizonte e Região foram pagos pela Central Única ds Trabalhadores para engrossar a primeira manifestação do funcionalismo estadual na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, em 16 de março." (grifo meu)

Contraditoriamente, logo abaixo, no mesmo parágrafo, o próprio jornalista se desmente. O entrevistado esclarece que o dinheiro recebido se tratava de R$25,00 (!), para custear alimentação (já que eles - a maioria, de fora da capital - passariam o dia inteiro na manifestação).

Ao longo do texto, a própria matéria vai desconstruindo a tese que ela mesma formulara, no seu primeiro período. O mesmo entrevistado, o Pelé da referida foto, diz sem nenhuma restrição como foram combinados e repassados a "abusrda" quantia de R$25,00 aos participantes da manifestação (a imensa maioria formada, sim, por servidores, dos quais, grande parcela, chegou de ônibus, vindos do interior).

Na minha opinião, esse apoio de outras classes - mesmo as que receberam ajuda de custo - não demonstra absolutamente nenhuma imoralidade. Essa união de diferentes setores trabalhistas é uma atividade comum e até saudável para a democracia. Deveria ser estimulada. A própria greve dos rodoviários ganhou adesão de grande parte da sociedade, inclusive o funcionalismo público. Afinal, ainda que não seja problema seu, se a causa é justa, por que não a defender?

O que não quer dizer que os trabalhadores tenham que fazer mais sacríficios pela causa. Uma simples ajuda de custo (sem áspas) seria o mínimo esperado para qualquer pessoa mais engajada disponibilizar todo o seu tempo livre para sair da sua cidade e manifestar sua insatisfação. E R$25,00 por um dia inteiro é uma quantia bastante razoável para os padrões estipulados na Cidade Administrativa, reino muito, muito distante onde o protesto se deu.

Além disso, o tal Pelé ainda esclarece vários mal-entendidos (ou interpretações de má-fé), que não pretendo esmiuçar aqui.

A matéria ainda explica que a denúncia veio depois que foram feitas imagens mostrando esse pagamento. Essas imagens são 35segundos, editados, de dentro de um ônibus e é possível visualizá-la no atalho para o portal Uai. Pesquisei e a encontrei novamente aqui, dentro de uma primeira matéria, que já tirava todas as conclusões, sem consultar os diretamente envolvidos.

Nessa matéria anterior mesmo, um outro dirigente de sindicato, sem nem ter participado da manifestação, já explicava:

"Ele (vice-presidente da Sinpol) disse que os servidores recebem de R$ 10 a R$ 20 para se alimentar. 'Não podemos tirar essas pessoas de suas cidades e deixar que elas fiquem com fome. Não estamos fazendo nada mais do que a restituição do que os associados pagam por mês aos sindicatos, pois trabalhamos por eles. Não há pagamento de militante'"

Sabendo-se que, antes de sua ocorrência, essa manifestação havia sido intensamente alardeada, fica claro que alguém se infiltrou com a intenção de registrar alguma malandragem dos movimentos sociais. Qualquer malandragem. Ou qualquer coisa que pudesse ser propagada como malandragem.

Isso leva a crer também que a filmagem e as matérias foram concebidas com clara finalidade de desmoralizar o movimento e, com ele, todas as reivindicações do funcionalismo e outros movimentos de oposição ao Governo de Minas. E isso reforça a blindagem que a imprensa mineira tem rotineiramente dispensado ao governador Aécio.

Dito isso, conclamo todos a relerem o título deste humilde comentário e refletirem: qual é a manifestação comprada e quem é o dirigente interessado?

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